quarta-feira, 16 de abril de 2014

Viver bem a Semana Santa

Viver bem a Semana Santa



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A Semana Santa, para nós cristãos, é a semana mais importante do ano. Como bem diz o nosso povo: “estamos vivendo os dias grandes”. Esta Semana é grande porque nela celebramos o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesta Semana Deus manifestou todo o seu amor pela humanidade e por cada um de nós. Com o apóstolo Paulo, cada um de nós pode dizer: “Ele me amou e se entregou por mim”(cf. Gl 2,20).
A Semana Santa, que ora iniciamos, pode ser considerada um manual de instruções para o cristão. Jesus pediu a seus discípulos que preparassem, com todo esmero, a sua Páscoa e, com isso, nos ensina hoje a fazer o mesmo. Vamos ler e meditar juntos o relato dos preparativos da Páscoa de Jesus?
Assim descreve o evangelista Marcos: “No primeiro dia dos ázimos, quando se imolava a Páscoa, os seus discípulos lhe disseram: ‘Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?’. Enviou então dois dos seus discípulos e disse-lhes: ‘Ide à cidade. Um homem levando uma bilha d’água virá ao vosso encontro. Segui-o. Onde ele entrar, dizei ao dono da casa: ‘O Mestre pergunta: Onde está a minha sala, em que comerei a Páscoa com meus discípulos?’ E ele vos mostrará, no andar superior, uma grande sala arrumada com almofadas. Preparai-a ali para nós”! (Mc 12b-15).
O apóstolo Paulo, por sua vez, lembra aos cristãos da comunidade de Coríntios para não celebrarem a Páscoa com o fermento da malícia e da perversidade (cf. 1 Cor 5,8). Não é esta uma orientação segura também para nós hoje? É triste constatar que muitos cristãos hoje vivem a Semana Santa com certa frieza e até na indiferença. A Semana Santa para nós, discípulos de Jesus, não é uma espécie de “carpe diem” (um aproveitar o hoje). Não é tempo para passear, pescar, se divertir, curtir a vida, relaxar, espairecer - como se fosse um feriadão. Assim como os discípulos de Jesus, também nós hoje devemos nos preparar bem para passar esses dias grandes na sua companhia. O Papa Francisco se lamenta que “há cristãos que parecem ter escolhido viver uma quaresma sem Páscoa"(EG 6). Contentam-se em celebrar uma Páscoa de aparência, sem graça, sem vida e sem passagem da morte para a vida. O bom cristão deve dizer com os cristãos de Abitine: “sem Eucaristia não podemos viver”. Parafraseando, “sem Semana Santa não podemos viver”. Onde, como e com quem vamos celebrar a Semana Santa deste ano de 2014?  
Vejamos, então, os ensinamentos e as instruções que a Santa Mãe Igreja nos proporciona na Semana Santa através de sua liturgia:
Domingo de Ramos é o grande portal de entrada na Semana Santa, a Semana em que Jesus caminha até ao ponto culminante da sua existência terrena. Ele sobe a Jerusalém para dar pleno cumprimento às Escrituras e ser pregado no lenho da cruz, o trono donde reinará para sempre, atraindo a Si a humanidade de todos os tempos e oferecendo a todos o dom da salvação.A liturgia deste Domingo inicia-se com a bênção dos ramos e a procissão que comemora a entrada triunfal de Jesus na Cidade Santa de Jerusalém, na qual é acolhido como Rei. Na liturgia Eucarística, o Evangelho proclamado é a narrativa da Paixão do Senhor. Somos convidados a entrar com Jesus no mistério de sua paixão e aquecer o nosso coração com o amor que não tem fim, o amor de Deus por nós. O ensinamento deste dia é que devemos acolher Jesus em nossa vida, nos deixar atrair pela força do seu amor e trilhar o caminho alto que nos conduz a Deus.
Na Quinta-Feira Santa inicia-se o Tríduo Pascal com a solene celebração da Ceia do Senhor. O mistério Pascal é o mistério central da vida cristã. Unidos a Jesus Cristo na sua Paixão, Morte e Ressurreição, podemos também nós viver santamente nossa paixão, morte e ressurreição. Neste dia Jesus instituiu o grande dom da Eucaristia e do sacerdócio ministerial. Também neste dia Jesus lavou os pés de seus apóstolos e nos deixou o mandamento do amor, nos ensinando, deste modo, a unir em nossas vidas, Eucaristia e serviço em favor dos irmãos. Quem se senta à mesa da Eucaristia não tem o direito de desprezar os pobres e marginalizados, nos quais Jesus se faz particularmente presente (cf. (Mt 25,31-46).
Sexta-Feira Santa é um dia inteiramente centrado na cruz e na morte de Cristo. Não se celebra a Eucaristia neste dia. A principal celebração deste dia é a celebração da Paixão que, é, fundamentalmente, uma ampla celebração da Palavra que culmina com a adoração da cruz e termina com a comunhão eucarística. Não é dia de luto pela morte de Jesus. É a morte do Ressuscitado que celebramos, motivo pelo qual falar de luto é inadequado. É também dia de jejum e abstinência. Somos convidados e contemplar o mistério da morte de Jesus como mistério de amor infinito por nós. Neste dia “o Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque se disse até calar, nada retendo do que nos devia comunicar. Está sem palavra a Palavra do Pai, que fez toda criatura que fala; sem vida estão os olhos apagados d’Aquele a cuja palavra e aceno se move tudo o que tem vida”(Papa Emérito Bento XVI, Verbun Domini, 13).
Sábado Santo é considerado o dia do silêncio litúrgico. A Igreja permanece em comunhão com o seu Senhor que repousa no sepulcro. Por isso, neste dia não se celebra nenhum sacramento. O grande símbolo deste dia é o Círio Pascal que entra solenemente no início da Vigília Pascal, simbolizando Cristo, Luz do mundo, que dissipa as trevas do pecado. Na liturgia da Palavra a Igreja proclama as maravilhas operadas por Deus na história da salvação, começando pela criação do mundo e passando pela libertação da escravidão do Egito. Maravilhas de todas as maravilhas é a Ressurreição de Cristo. Esta é a noite da nova criação, do novo mundo recriado na luz da ressurreição do Senhor. Esta Vigília se conclui com o “Aleluia”, canto, por excelência, da ressurreição, e a Solene liturgia eucarística da Páscoa do Senhor.
Domingo da Páscoa. A Páscoa é a festa da nova criação. Jesus ressuscitou e nunca mais morre.  A porta que dá acesso à nova vida foi arrebentada. Na Páscoa, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Deus disse novamente: “Faça-se a luz!” Antes tinham vindo a noite escura do Monte das Oliveiras e da traição de Judas, o eclipse solar da paixão e morte de Jesus, a noite do sepulcro e do silêncio. Mas, agora a criação recomeça inteiramente nova. Jesus ressuscita do sepulcro. A vida é mais forte que a morte. O bem é mais forte que o mal. O amor é mais forte que o ódio. A verdade é mais forte que a mentira. O salmo desta liturgia canta: “Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos”. A Ressurreição de Cristo é o mistério fundante da fé cristã. Já bem dizia Santo Agostinho: “Crer que Jesus morreu não é grande coisa. Isto até os pagãos professam. Grande coisa é crer que Jesus ressuscitou. A fé cristã é a ressurreição de Cristo”. O Ressuscitado vence toda forma de escuridão. Ele é o novo dia de Deus que dá sentido pleno à nossa vida. Celebremos, portanto, nossa Páscoa na pureza e na verdade. FELIZ PÁSCOA DE RESSURREIÇÃO!
Dom Pedro Brito Guimarães

Prazer em conhecê-Lo


Prazer em conhecê-Lo

Houve um homem que deixou uma grande descendência, comparada com as areias do mar ou as estrelas do céu. Seu nome, Abraão (Cf. Gn 12,1-4), está ligado às grandes religiões monoteístas, o judaísmo, o islamismo e o cristianismo. Um nômade chamado a deixar a própria terra, convocado a apostar numa promessa de paternidade, quando os anos lhe eram passados. Arriscou sua vida na visão do invisível, por ter conhecido a experiência magnífica da fé. Até seus afetos foram tocados, inclusive endurecidos, quando esteve disposto a sacrificar o fruto da promessa. É que alguém passava na frente de todas as suas seguranças. Ele é chamado pai da fé, para a imensa multidão que se espalha pelos rios da terra e da história!
No rastro deixado por Abraão, homens e mulheres caminharam atrás do invisível, enfrentaram obstáculos intransponíveis, viveram de esperança em esperança. Aquele em que acreditavam suscitou-lhes profetas, pessoas teimosas que entreviam luz onde tudo parecia treva, gente que arregimentava multidões, capazes de atravessar desertos durante quarenta anos, ou sofrer o exílio, a perseguição e a incompreensão. Muito mais tarde, depois de apanhar de tudo e de todos, cresce um resto pequeno e fiel, aqueles que foram chamados pobres de Javé. Com eles a chama permaneceu acesa. E veio Jesus, Verbo de Deus feito carne, para tornar visível e presente o amor de Deus, que amou seriamente o mundo!
Os que tiveram primeiro o prazer de conhecê-lo formaram um grupo, chamados de discípulos. Quem foram eles? Pescadores e pecadores, funcionários, comerciantes, publicanos, doentes que jaziam à beira da estrada, pobres e ricos, gente bonita e gente feia. Deus tem um gosto diferente! É que Ele vê lá dentro, sabe descobrir uma chama bruxuleante dentro do coração das pessoas. E o faz mais do que qualquer outro. Por isso, muitos querem ter o prazer de conhecê-lo.
Os primeiros discípulos tiveram surpresas ao se decidirem a seguir Jesus. Para muitas pessoas, a expectativa era de um Messias poderoso, cheio de poder e autoridade, disposto a enfrentar os poderes opressores, corajoso diante das ameaças. As conversas correntes aprontavam para um líder glorioso, e se apresenta um homem que percorre as estradas da Palestina, anunciando um Reino que é de Deus, propondo uma vida diferente, curando as pessoas, a espalhar o perdão, erguendo os braços e pernas vacilantes. Muito prazer tiveram ao conhecê-lo, ainda que os deixasse implicados com a novidade.
Uma das realidades humanas cultivadas por Jesus foi a amizade. Três de seus discípulos o acompanharam em ocasiões especiais. O primeiro, Pedro, homem da generosidade, da sinceridade, da insegurança e da negação. Depois os dois “Filhos do Trovão – Boanerges”, cujo apelido não deve ter significado muita coisa boa. Um deles, pela proximidade com Jesus, João, fez com que até hoje valorizemos quem é “amigo do peito”. Os três acompanharam Jesus quando foi à Casa de Jairo, estiveram com Ele (dormindo!) durante as horas de agonia no Horto das Oliveiras e foram reconhecidos como colunas da Igreja nos tempos apostólicos. Sempre próximos de Jesus, nas intervenções oportunas ou não, mas amigos, daquele tipo de amizade sincera que dizemos ser um santo renmédio! E foi diante deles que Jesus quis apresentar-se com o que havia de mais bonito, quando os conduziu ao monte que a tradição reconheceu ser o Tabor.
Ao se apresentar diante deles, Jesus teve o cuidado de assegurar-lhes, num respeito profundo às tradições em que tinham sido criados, testemunhas qualificadas, Moisés e Elias, a Lei e os Profetas. Como se não bastasse, é na nuvem da presença divina que são envolvidos e a voz do Pai se manifesta, para proclamar que nele estava todo o seu agrado. Por isso, era para escutá-lo. Prazer em conhecer Jesus! A experiência dos discípulos se destina a todos nós.
Conhecer Jesus quer dizer aprender que com a paixão e a cruz se chega à glória da Ressurreição. Deus não nos engana, mas nos faz realistas, com os pés no chão, para edificar a fidelidade cotidiana e enfrentar, sem desanimar, todos os desafios da vida. Discípulo se forma no torno de um cotidiano apertado mesmo, no qual se aprende a amar e a sair de si.
O prazer em conhecer Jesus leva as pessoas a se interessarem por Ele, pela força de sua Palavra, cria nelas o empolgamento pelas causas que são suas, como a verdade, a justiça e a fraternidade. Trabalhar pelo bem dos outros passa a ser a alegria da vida, e os pesos desaparecem! Ao descer das montanhas em que o Senhor se revela, ao longo da vida, àqueles que são seus, Ele continua pedindo o silêncio do testemunho, para que suas vidas suscitem questionamentos e as pessoas sejam conduzidas a fazerem a mesma experiência. Tanto é verdade que São Paulo, ecrevendo ao seu amigo Timóteo, não teve receio de dizer-lhe: “Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de força, de amor e de moderação. Portanto, não te envergonhes de testemunhar a favor de nosso Senhor, nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro; mas, sustentado pela força de Deus, sofre comigo pelo evangelho. Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não em atenção às nossas obras, mas por causa do seu plano salvífico e da sua graça, que nos foi dada no Cristo Jesus” (2 Tm 1,7-9).
O Pedro das várias aventuras com Jesus, que até pediu que dele se afastasse seu amigo, por sentir-se pecador, o que foi feito pescador de homens em lugar dos peixes, guardou a memória dos acontecimentos da Transfiguração: “Não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua grandeza. Efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez ouvir aquela voz que dizia: ‘Este é o meu Filho bem-amado, no qual está o meu agrado’. Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele na montanha santa” (2 Pd 1, 16-18). Com Pedro, Tiago e João, descendo da montanha para a planície, resplandeça em nossas ações a luz daquele que tivemos o prazer de conhecer!

 
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL

Rede de Intercessão Abril

Rede de Intercessão Abril - O crescimento espiritual do intercessor: a vida de santidade!

Querido intercessor: o Ministério de Intercessão da RCC do Brasil está trabalhando o seu Plano de Ação 2014-2015. Uma das realidades nele presente é a necessidade de o intercessor ser pastoreado para que seja formado em todas as dimensões da sua vida. Uma dimensão importantíssima a ser cuidada é a espiritual: precisamos crescer na vida espiritual, avançar na maturidade cristã, progredir na santidade! É sobre isto que quero refletir com você neste artigo, para crescermos juntos!
Quando falamos de crescimento espiritual, uma primeira verdade a ser lembrada é a nossa vocação à Santidade. A Palavra nos diz: “Deus nos escolheu [...] para sermos santos [...], no amor” (Ef 1,4). E ainda: “esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1Ts 4,3); O próprio Deus nos ordenou: “Sede santos, por que eu sou santo” (Lv11,44; Cf. tb. 1Pd 1,16). E Jesus determinou: “Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Alcançar a santidade é alcançar a perfeição do Amor! E a medida é o próprio Deus. O ponto máximo do crescimento espiritual é estarmos “repletos da plenitude de Deus” (Ef 3,19), que “é Amor” (1Jo 4,8); a meta é alcançarmos a “plenitude de Cristo” (Ef 4,13).
Simplificando, podemos dizer que a Santidade é a configuração do nosso coração ao coração de Cristo. Uma pessoa está no caminho de santidade quanto mais o seu coração se vai conformando com o de Cristo, a ponto de chegar ao estado de perfeição em que chegou São Paulo quando disse: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Mas, como é o coração de Cristo? É um coração ardente de amor-caridade. Ele viveu aquilo que todos nós somos chamados a viver: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e o teu próximo como a ti mesmo” (Lc10,27. Cf. Dt6,5; Lv19,18). Será que podemos dizer isto de nós mesmos no estágio em que estamos em nossa vida espiritual? É Cristo que verdadeiramente vive e ama em nós, em cada instante de nossa vida? Amamos a Deus com esse amor intenso? E ao próximo?
Se fizermos um sincero exame de consciência, veremos que ainda não! Possivelmente iremos nos deparar com realidades nas quais ainda padecemos em nossa vida cristã: pecados (mortais e veniais), dificuldades em nossa união a Deus através da oração (sensação de fracasso, de desânimo; cansaço, superficialidade, inconstâncias...), sentimentos e atitudes de orgulho, de vaidade, de soberba; desordens interiores, apegos, dificuldades no relacionamento com os irmãos (ira, ressentimentos, impaciência, ciúmes, divisões...); infidelidades no nosso ministério; e tantas outras realidades que possamos viver e com as quais sofremos. Enfim, veremos que ainda falta santidade em nós, falta amor! Com isto, muitas vezes somos tentados a desistir de tudo! No entanto, o Espírito Santo continua a ressoar em nossos corações: “Sede Santos”, “sede perfeitos”.
Há este desejo em nosso coração! Há esta sede em nossa alma! Mas, como alcançar isto? Como progredir no amor até alcançar a perfeição a que chegaram os santos? Como atingir a nossa meta? Antes ainda: isto é possível? Respondo a você com convicção: sim, é possível! A tradição espiritual da Igreja e os Santos nos ensinam que é possível e nos mostram o caminho para alcançarmos a perfeição, a santidade.
A Igreja tem claro que a santidade não é um comportamento certinho que podemos ter, mas é a nossa participação na vida divina pela progressiva união à Santíssima Trindade; é participar do Amor de Deus. A santidade é o Amor Perfeito de Deus atuando em nós! É chegar a amar Deus com o mesmo amor com que somos amados por Ele. E, não amaremos se Deus não nos der o Amor, que é o próprio Espirito Santo: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espirito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
Outro dado importante que os Santos nos ensinam, é que a vida espiritual passa por três fases: a primeira fase é a dos iniciantes; a segunda é a fase dos avançados; e a terceira e última, a fase dos perfeitos. Além disto, nos ensinam que a passagem de uma fase para a outra se faz através de uma conversão.Enfrentamos dilemas, crises, consolações e desapegos. São as purificações necessárias em nossa alma para que o próprio Amor Perfeito de Deus possa atuar em nós. Passamos, então, por trêsconversões.
Descrevendo de forma bem simples: os principiantes são aqueles que, depois de um generoso caminho de esforço na oração e na penitência, colaborando com a Graça de Deus, chegam a amar a Deus de forma a não mais cometer o pecado mortal; os avançados são os que, além de praticamente não pecar mortalmente, alcançam a graça de amar Deus de forma a evitar inclusive os pecados veniais. E os perfeitos são aqueles que chegaram a uma união tal a Deus, uma configuração maravilhosa com o coração amoroso de Cristo que amam Deus e os irmãos com o mesmo amor com que são por Ele amados, e vivem todo o tempo em Sua presença, numa espécie de “matrimônio espiritual”. E o mais maravilhoso em todo esse caminho é ver a ação de Deus: é Ele que vai fazendo a pessoa progredir, purificando-lhe a alma e doando a ela, progressivamente, o seu Amor Perfeito.
Entender todo este processo é muito importante para nós. Gostaria, porém, de me deter na primeira fase, a dos iniciantes; a fase em que provavelmente eu e você estamos.
Primeiramente, saibamos o que é a “primeira conversão”: é a passagem do estado de pecado para o estado da graça. Acontece pelo chamado de Cristo. Lembremo-nos de quando Deus tomou a iniciativa e chamou-nos, como a Pedro: “segui-me e vos farei pescadores de homens” (Mc 1,17). Deus nos visitou e nos fez renascer. A graça nos alcançou e passamos a amar a Jesus de uma forma nova. Fomos separando-nos progressivamente do espírito do mundo para nos voltar a Deus. Passamos a lutar contra o pecado mortal, a rezar, a conhecer mais a Deus e a nossa miséria, a servir a Cristo e aos irmãos. Com esta graça, os principiantes passam a travar uma generosa luta para purificar-se de suas impurezas e fraquezas no amor. E, de acordo com a generosidade nesta batalha, os principiantes recebem, como recompensa, consolações sensíveis na oração e no estudo das coisas divinas. Quantas consolações de amor o Senhor nos foi dando. Como foi – ou é ainda – fácil “sentir” Deus em nossa alma, nos momentos de oração, de leitura das Sagradas Escrituras... Creio que você consiga enxergar isto em sua vida! Porém, o amor do iniciante, ainda não é um amor puro e perfeito. O principiante generoso já ama a Deus “de todo o coração”, mas ainda não de toda alma ou com todas as forças, nem de todo o seu entendimento. Ainda é como uma criança em Cristo (cf. 1Cor 3,2). Ainda é um amor que tem muito egoísmo; enche-se por vezes de orgulho, mesmo que inconsciente quando alcança sucesso em uma missão, por exemplo. Vê em si a vaidade quando utiliza os dons e carismas que recebe do Espírito Santo. Por outro lado, começa a ter dificuldades com os irmãos nos seus relacionamentos... É, então, que Deus toma mais uma vez a iniciativa, para poder purificar esta alma, para fazê-la amar mais perfeitamente, para que progrida no amor, passando para a fase dos avançados.
É necessária uma segunda conversão. E como Deus faz isto? Do que se trata? É aquela conversão descrita por São João da Cruz e denominada de purificação passiva dos sentidos, “comum ao maior número de principiantes” (Noite Escura, I, cap. 8). Esta purificação acontece através de uma aridez na alma, na vida espiritual. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a aridez “acontece na oração, quando o coração está desanimado, sem gosto com relação aos pensamentos, às lembranças e aos sentimentos, mesmos espirituais” (2.731). Então, o principiante não experimenta mais as consolações sensíveis em que antes muito se comprazia. Talvez, muitos de nós estejamos vivendo isto. Parece que tudo ficou meio pesado. A alma está seca, árida... Além disto, não é raro que apareçam outras dificuldades purificadoras, por exemplo, no estudo das coisas de Deus, no exercício dos deveres do ministério, no relacionamento com as pessoas, especialmente aquelas em que se tinha um demasiado apego – às vezes o Senhor as afasta dolorosa e repentinamente. Podem surgir, também, fortes tentações na área da sexualidade. Quantos irmãos, sem entender isto e sem lutar, sucumbiram e abandonaram o ministério e o próprio Senhor; sente-se, também com frequência, uma impaciência com os irmãos.
O que dizer de tudo isto? Primeiro: não se assuste! Não ceda à tentação de abandonar o ministério, ou o seu itinerário espiritual. Tudo isto faz parte deste necessário caminho de purificação do amor. Tudo isto mostra o quanto ainda não amamos com o Amor divino.
Mas, como reagir? No que diz respeito à “noite escura dos sentidos”, ou seja, à aridez, primeiramente você precisa ver se esta aridez é mesmo enviada pelo Senhor ou é consequência de uma situação de pecado. Neste caso, “[...] o combate deve ir na linha da conversão” (Catecismo da Igreja Católica, 2731). A solução é passar por um verdadeiro arrependimento – suplicar isto ao Espírito Santo – e buscar a confissão sacramental para voltar à união com Deus. A aridez pode ter, também, uma causa física, ou seja, como resultado de estresse e de ativismo, ou de uma doença. Neste caso, trate destas causas: tome remédio, cuide da saúde, diminua o ritmo de atividades descansando um pouco mais. O corpo precisa te ajudar. Ajude-o nisto.  A aridez pode acontecer, ainda, por causa da tibieza, ou seja, aquela preguiça espiritual, aquela frouxidão, que leva a pessoa à falta de ardor ao Senhor. O remédio é ser mais generoso no serviço a Deus, e não pensar em desistir dele.
E, quais os sinais que indicam que se trata daquela aridez permitida pelo Senhor? Primeiramente, esta aridez é um tanto prolongada. Por um bom tempo não se experimenta os consolos na alma, conforme dito acima. Segundo, é que, porém, permanece na alma um desejo vivo de Deus – “Eu quero Deus” –, e o temor de O ofender. É preciso, então, ter visão sobrenatural e perceber que não se trata de um distanciamento de Deus, nem de um fracasso, mas de um momento de graça no seu crescimento espiritual. O que fazer então? Primeira coisa: aceite esta falta de consolação permitida pelo Senhor. Diga “sim” a ela. Depois, tenha uma atitude de humildade diante do Senhor. Reconheça sua pequenez diante Dele e o fato de que você não merece qualquer consolação. Reconheça a grande bondade e misericórdia de Deus. Fique firme! Não desista do seu caminho espiritual! Receba este momento com fé e confiança em Deus, o Divino Pedagogo. O Catecismo diz que este “é o momento da fé pura que se mantem fielmente com Jesus na agonia e no túmulo. ‘Se o grão de trigo que cai na terra morrer, produzirá fruto’ (Jo 12,24)” (2.731). Esta é a outra postura no momento da aridez: unir-se a Jesus no Horto das Oliveiras. Sofrer com Ele a angústia e com Ele suportá-la. Então, seja fiel, abrace a Cruz! Ame ao Senhor! Seja generoso! Este é o remédio para a aridez. Aumente seu tempo de oração; vá rezar mesmo sem aquele gosto sensível na sua alma, mesmo sem querer. Isto torna este momento muito mais precioso aos olhos de Deus do que outras orações feitas em momentos de consolação. E aumente também seu tempo de dedicação às coisas de Deus. Sirva-O no seu ministério mesmo sem que você sinta consolo sensível para tal. Entregue sua vida em sacrifício de amor. A grande Santa Tereza D’Avila nos diz: “Talvez nem saibamos o que é amar, o que não me espanta. Não consiste o amor em ser favorecido de consolações. Consiste, sim, numa total determinação e desejo de contentar a Deus em tudo, em procurar, o quanto pudermos, não ofendê-lo” (Castelo Interior ou Moradas, Quartas Moradas, capítulo 1, n. 7.). Eis o que é o amor: não um sentimento, mas uma determinação em contentar a Deus em tudo!
Caro irmão: se formos generosos na oração, na penitência, e nas mortificações; se formos fiéis a Ele abraçando a nossa cruz do dia-a-dia, tudo por amor, tudo com uma determinação de agradá-lo, nós iremos alcançar dEle a graça santificante que nos fará amar mais perfeitamente a Ele, e, neste Amor, amar nossos irmãos. Estaremos adentrando na fase dos avançados na vida espiritual.
Caminhemos, então, de forma humilde e confiante! Avancemos de forma generosa, amando de volta o Amor, pela oração e pela penitência. Progridamos suplicando a Deus o Amor, pois “O amor vem de Deus” (1Jo 4,7a). Supliquemos insistentemente a graça de amá-Lo com o mesmo Amor que Ele nos ama, ou seja, com o próprio Espírito Santo, fogo ardente que abrasa as almas que a Ele se entregam. Assim seja!
Padre Reginaldo de Souza Oliveira
Sacerdote da Arquidiocese de Cuiabá e Assessor Eclesiástico da RCC MT
Núcleo Nacional do Ministério de Intercessão

INTENÇÕES PARA ESTE MÊS
1.    Para que cesse a violência no Brasil e no mundo.
2.    Pelas eleições para deputados, governadores e presidente no Brasil em outubro.
3.    Pelo Encontro Nacional de Cura e Libertação para mandatários católicos nos dias 24 a 26 de abril em Brasília.
4.    Pelo Encontro Nacional de Formação para coordenadores diocesanos que acontecerá em Brasília nos dias 01 a 04 de maio de 2014.
5.    Pelo encontro Nacional de Intercessão Profética que acontecerá em Aparecida/SP nos dias 25 a 28 de setembro de 2014.
6.    Pela Reunião de Oração do seu Grupo de Oração (pelo pregador, dirigente, músicos e demais servos e pelas pessoas que participam da Reunião de Oração).
7.    Pelos Grupos de Oração na sua Diocese, no seu Estado e no Brasil.
8.    Pelos Ministérios da RCC no seu Grupo de Oração, Diocese, Estado e no Brasil.
9.    Pelas necessidades espirituais e financeiras dos escritórios diocesano, estadual e nacional da RCC.
10.  Pelos projetos da RCC na Diocese, no Estado, no Brasil na América Latina e no Mundo.
11.  Pelos eventos de evangelização da RCC no seu Grupo de Oração, na sua Diocese, no seu Estado e no Brasil.
12.  Pela Reunião dos Conselhos Diocesano, Estadual e Nacional neste ano.
13.  Pelas coordenações do seu Grupo de Oração, da RCC na sua Diocese, no seu Estado e no Brasil (Coordenadora Nacional: Katia Roldi Zavaris e sua família).
14.  Pela Santa Igreja, pelo Santo Padre, o Papa Francisco, pelo seu Bispo diocesano, pelos Sacerdotes, Diáconos, Religiosos e Religiosas e pelos Seminaristas.
15.  Pelas casas de missão da RCCBRASIL e pelos missionários e missionárias.
16.  Pela construção da Sede Nacional da RCC do Brasil e pelos seus colaboradores.
17.  Para que todos os membros da RCC do Brasil se abram para a moção da Reconstrução.